O artesão Manoel Paciência em plena ação Que o Brasil é rico em artesanato, dos mais diversos materiais e tipos, não é novidade. Herdamos o dom manual dos índios, que produziam e produzem seus utensílios domésticos com as mãos – função basicamente feminina. Mas o processo de colonização e tudo aquilo que já vimos na escola (revoluções, crescimento econômico etc.) transformaram a necessidade do homem em peças decorativas e adornos. Se pessoas que vivem dessas estão espalhadas por esse país afora, no nordeste, é possível apontar uma riqueza privilegiada.
Beleza e exclusividadeFoi justamente na Bahia, na península de Maraú – a 180 km de Salvador –, que conheci
Manoel Paciência. Aliás, nunca vi um apelido caber tanto a alguém. Paciência tem a tranquilidade e o bom-humor típicos do baiano. O contato com o artesanato começou há apenas 14 anos, quando ele buscava saída para uma depressão.
Depois de algumas aula para aprender a lidar com os materiais que trabalha, já criava sozinho. Casca de coco (de todas as partes da árvores) e palha são os mais utilizados. De restos da natureza saem luminárias, abajures, camas, cadeiras... que além de contarem com o luxo de serem feitos à mão, um por um, carregam também a exclusividade. Dificilmente Paciência repete uma criação.
As referencias artísticas? “Não tenho não. A coisa vem na cabeça e eu faço”, explica no
Abajur em um dos quartos do Kiaroa melhor tom de autoestima – também outra característica do povo daquela terra linda. Por dia, Paciência pode fazer até duas luminárias dependendo da demanda e da inspiração. Quase todos os hotéis de Barra Grande tem seu toque. O resort
Kiaroa, por exemplo, que foi onde o conheci, é praticamente uma vitrine.
Expandindo seus saberesO melhor foi saber que Paciência está contribuindo para a continuação dessa tradição, mais do que justamente classificada como arte. Hoje são oito pessoas produzindo a seu lado, algumas senhoras formadas em um curso voltado para a terceira idade. Em breve, o artesão dará suas aulas para um grupo de deficientes mentais ali da região.
Na alta temporada, chega a vender 50 peças por mês para ingleses e italianos, na maioria. “Outro dia recebi um e-mail de uma mulher que viu uma peça minha na casa de uma amiga na Europa e fez questão de escrever para contar como ficou emocionada.” A história dele é apenas um exemplo dos muitos talentos escondidos no litoral ou no interior. Reconhecer o que o Brasil tem de genuíno nunca é demais para quem aprecia cultura.
*As fotos foram gentilmente cedidas por
Cris Berger.
Algumas das peças que Paciência já produziu